03 de março de 2018

3º Domingo da Quaresma.

“Destruí este Templo e em três dias o levantarei.” (Jo 2,19)
3º Domingo da Quaresma.

“Destruí este Templo e em três dias o levantarei.” (Jo 2,19)

Continuando nossa reflexão quaresmal celebramos o terceiro domingo centrando num tema fundamental em nossa caminhada cristã: os mandamentos do Senhor e a fidelidade a esse caminho.

Na primeira leitura do Livro do Êxodo, Moisés apresenta ao povo o Decálogo, ou seja, os 10 mandamentos que recebeu do próprio Deus, escrito nas tabuas. Vejam que primeiramente o Senhor se apresenta, recordando: “Eu sou o Senhor teu Deus que te tirou do Egito, da casa da escravidão.” (Ex 20,2) e na sequência coloca os mandamentos para seu povo eleito. É importante observarmos que colocar limites é uma pedagogia fundamental ao ser humano, que vem do próprio Deus, pois o Senhor não deseja ter escravos, mas sim homens livres, por isso a libertação, mas é preciso que seja uma adesão livre, por amor e tão somente por amor. Esses limites e todo o Decálogo é para nós um bem, como diz a primeira estrofe do Salmo: “A lei do Senhor Deus é perfeita, conforto para a alma!” (Sl 18,8).

Já na carta de São Paulo aos Coríntios, Paulo exorta a loucura da cruz, que contraria toda sabedoria humana, mas sim mostra a sabedoria de Deus, que realizou na cruz a nossa salvação.

E este Salvador em sua missão, milhares de anos após o Decálogo, encontra a casa do Pai totalmente desvirtuada, transformada numa casa de comércio. Justamente o grande Templo de Jerusalém, que foi idealizado por Davi para guardar a arca da aliança - as tabuas do Decálogo e foi construído por Salomão (embora foi destruído por Nabucodonosor e depois reconstruído após o exílio da Babilônia).

Já não era mais a casa de oração que Davi inspirou, que deveria adorar ao Deus vivo, que deveria guardar a fé e a tradição, para que fossem transmitidas por gerações e gerações aos filhos de seus filhos.  A casa de oração havia se transformado em um negócio.

Não é para menos que Jesus não aceita aquela situação e com o chicote expulsa os vendedores dizendo: “E disse aos que vendiam pombas: Tirai isto daqui! Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio!” (Jo 2,16)

Essa cena de um Jesus colérico pode nos causar um pouco de espanto, mas fique tranquilo. Ser colérico as vezes, sem passar da medida, faz bem. Quando estudamos os temperamentos sempre dizemos aos nossos grupos que Jesus era perfeito e sendo perfeito ele tinha os quatro temperamentos muito bem equilibrados e assim foi colérico quando precisou (esta cena retrata bem), foi sanguíneo, foi fleumático e também foi melancólico, tudo a seu tempo e na medida exata. Em algum momento quem sabe possamos desenvolver esse tema, mas agora no momento não é o ponto central.

O ponto central é que pode ser muito fácil ao longo do caminho se perder, mudar o rumo. Aliás é muito comum na vida, nos desviarmos do objetivo principal, perder o foco numa linguagem moderna, pois isso é muito próprio do ser humano e pode acontecer não apenas em nossa vida, mas também em nossa família, em nossa comunidade e em nossa Igreja. Se observarmos a pedagogia schoenstattiana, idealizada pelo nosso Pai e Fundador – Padre José Kentenich, veremos que a pedagogia do ideal tem como foco revelar nossa missão e nos guardar dos nossos desvios. Na Oração da manhã rezamos sempre: “Paire ante nosso olhar e forme toda nossa vida o ideal para o qual teu amor nos criou, nele concentremos toda força” (RC 11, pg 17). Também nossos estatutos são os guardiões dos nossos propósitos para assegurar a nossa missão. São placas indicativas para a gente não se perder.

Encontramos sempre um ponto em comum, nos desvios que acontecem: o interesse próprio, geralmente por algo ligado ao orgulho, a vaidade, o egoísmo e quase sempre motivados por interesses financeiros. É o caso do Templo, mas pode ser o nosso caso: Jesus aproveitou a ocasião e ao mesmo tempo que fez uma limpa, falou do verdadeiro Templo, Ele próprio: “Destruí esse templo e o reconstruirei em 3 dias”. Falava logicamente da Trindade, falava da sua ressurreição e é sabido que pelo batismo nos tornamos Templo do Espírito Santo. Guarde essa palavra: somos Templo.

Então vamos refletir um pouco: imagine Jesus adentrando o nosso templo, o nosso coração: O que Ele iria encontrar? É um templo cumprindo a sua finalidade (o ideal para o qual o bom Deus nos criou), ou será que somos templo só de fachada, onde os valores que deveríamos estar vivendo já não são mais os mesmos? Esses valores são pautados pelo decálogo? Aliás, esses ficaram na memória da catequese, ou são atuais em nossa vida?

Quais são as mesas de cambistas que estão a porta de nosso coração, que nos desviam do caminho? Quais são eles? Será o apego ao dinheiro, a posição social? É o cigarro, a bebida, a sexualidade, o conforto, a falta de coragem para enfrentar os desafios da vida? Será que não ficamos nos enganando e assim vamos empurrando nossa vida talvez fazendo de conta que somos União de Famílias, fazendo de conta de ser um bom cristão e ficar repetindo o que muita gente repete nos confessionários: - Padre eu não roubo, não prejudico ninguém por isso tenho poucos pecados e são pequenos.

Não se iluda não, meu irmão, minha irmã: se estou nessa situação ou a beira dela, o único remédio é um bom chicote. Essas coisas que desviam nosso objetivo somente saem a força. E essa força se chama ascese e o tempo quaresmal é quem potencializa a força desse chicote, que nos dá coragem para essa libertação. Oração, Jejum e Caridade. Oração, Jejum e Caridade. Oração Jejum e Caridade. Não tem outra receita.

É muito cômodo escutarmos esse evangelho, olhando o templo dos outros, imaginando Jesus expulsar os cambistas de lá. Talvez esteja na hora de convidar Jesus, para que venha e expulse os vendilhões do nosso templo, para que Ele possa ter espaço. Todos precisamos, não tem exceção. Não ache que não precise.

Temos ainda muitos dias de quaresma e se ainda não encontramos a força para este chicote, peçamos ajuda a Mãe de Deus. Ela saberá como ajudar, como dar-nos a força que precisamos.

Coragem! Podemos! Nela confiemos!

Uma excelente semana!  

“Rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes; e convertei-vos ao Senhor vosso Deus” (Joel 2,13).

Romulo e Márcia Romanato

XIII Curso/ Região SP

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