Envie seu testemunho
TESTEMUNHO NELSON A. M. PACHECO

Estava terminando o mês de agosto de 2016. Recebi o recado que o Dr. Marco Duarte Pilla precisava falar comigo sobre o resultado dos exames de rotina que havia realizado, seguindo uma prática que já vinha desde o final da década dos anos de noventa. Pela primeira vez isso acontecia, mas não me preocupei. O ano de 2016 tinha se caracterizado até ali por muitas exigências. No campo profissional, o trabalho no Tribunal de Justiça era estafante, com uma distribuição de recursos e ações originárias crescente. No terreno eclesial, estavam em andamento as reuniões preparatórias para o início do XXX Curso da União de Famílias, o presente que tencionávamos dar à Mãe de Deus e ao Padre Kentenich na comemoração dos 30 anos do Santuário Tabor Maria Cor Ecclesiae. Na época, eram nove famílias que havia dado o seu sim ao convite da Mãe de Deus e de nosso Pai e Fundador, o que muito nos alegrava. Estávamos repletos de projetos e queríamos implementá-los para o louvor e a glória da Trindade Santíssima, de nossa Mãe, Rainha e Vencedora Três Vezes Admirável de Schoenstatt e do Pe. Kentenich. Decidi ir ao encontro do médico no final daquela tarde. O Dr. Marco me recebeu em sua sala no terceiro andar do prédio do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul com cordialidade e firmeza, dizendo que o resultado do meu hemograma preocupava. A hemoglobina havia baixado de 15, onde estava estacionada há muitos anos, para 11,3 e isso merecia investigação. Deu-me a requisição de novo hemograma, recomendando que o realizasse o quanto antes. Redargui que estava com muitas atividades, a primavera se avizinhava e tudo voltaria ao normal, prometendo-lhe fazer o exame depois do início do horário de verão, pois tencionava voltar as atividades físicas ao ar livre, às margens do lago Guaíba. Aparentemente ele aceitou as minhas ponderações e fui embora com o propósito de só renovar o exame em meados de outubro. O mês de setembro de 2016 me reservou algumas experiências desagradáveis. Fomos a Garopaba comemorar o aniversário da Ana Virginia. Saímos para caminhar e mal consegui subir o aclive que leva à antiga Igreja de São Joaquim e que que dá acesso ao caminho para a praia do Vigia, tamanha a fadiga que me acometeu. Naquela tarde dormi mais do que o habitual. É verdade que já estava notando o meu decréscimo físico ao realizar os exercícios de inverno na esteira e no elíptico. Voltamos para Porto Alegre. As escadas que separam a garagem do primeiro nível da casa pareceram ter aumentado de tamanho, pois cheguei ofegante. Outros sinais foram aparecendo, como o sangramento nas narinas, o inchaço das gengivas, mas tudo parecia norma. No sábado seguinte fomos comemorar o aniversário da Thaise, a esposa do Fábio, nosso filho, e todos notaram a minha palidez e se preocuparam comigo, especialmente as minhas filhas Fernanda e Fabiana e minha esposa que me pressionaram para fazer o hemograma o quanto antes. Prometi-lhes que iria fazê-lo na semana seguinte. Naquela época tinha uma camioneta Korando e sua revisão dos dez mil quilômetros se aproximava. A concessionária de Porto Alegre havia encerrado as suas atividades e agendei a revisão para Caxias do Sul. Estava marcada para o dia 04 de outubro. Programei a minha viagem para Caxias do Sul e decidi fazer o exame naquela manhã. Saí de casa às 7h15min e estacionei o veículo num restaurante nas proximidades do laboratório. Cheguei as 7h22min. Quando ia retirar a senha a recepcionista mandou que passasse para ser atendido. Surpreendentemente, o laboratório estava vazio naquele horário e não compreendi. Fui atendido rapidamente, a senhora preencheu o formulário do convênio e disse-me para passar à coleta, pois estava sem papel na impressora e me levaria o recibo em seguida. Isso nunca havia acontecido. Na saída da sala de coleta, por volta de 7h27min, a sala de espera já estava repleta. Foi para o meu gabinete no Tribunal de Justiça e trabalhei naquela manhã. Dali rumei para Caxias do Sul por volta de 11h, levando um celular carregado e novo para a viagem. Cheguei na concessionária às 13h30min, entreguei a camioneta à recepcionista e fui aguardar na sala de espera, onde adormeci e assim fiquei até ser chamado quando o veículo ficou pronto. Notei que o celular estava ligado e sem comunicação. Tentei ligar para casa e não consegui. Voltei de Caxias do Sul às 16h30min e na descida da serra o telefone voltou a funcionar. Imediatamente recebi uma ligação de casa. Era a Ana Virginia muito preocupada, dizendo que tinha recebido ligações do Tribunal e do Dr. Marco Duarte Pilla e que precisava falar-me com urgência. Marcamos para nos encontrarmos às 18h30min para participarmos da missa no Santuário Santo Antônio Pão dos Pobres. Cheguei um pouco depois do horário previsto, pois havia muito trânsito no retorno, mas foi possível participar da Celebração Eucarística com a minha esposa, participar da mesa da palavra e do Corpo e Sangue de Cristo. No final, diante da imagem de nossa Mãe, Rainha e Vencedora Três Vezes Admirável, ela me deu a notícia de que precisava de internação hospitalar imediata. Era isso que o médico queria me comunicar e não conseguiu durante todo a tarde daquele dia 04 de outubro. Não aceitei a notícia e disse que estava precisando ir em casa, pois não havia comido nada naquele dia. Não tinha fome. Ao chegarmos em casa lá já estava a Fernanda, a nossa filha, que também me deu a notícia de que eu precisava de internação urgente. Foi então que liguei para o médico e ele confirmou tudo, dizendo que já estava uma equipe me esperando na emergência do Hospital Mãe de Deus. Pela vez primeira e pela palavra do médico, ouvi a confirmação da doença: Leucemia. Coloquei algumas roupas numa sacola de viagem, as minhas coisas de higiene pessoal e rumamos para o hospital. A partir de então o Fábio passou a nos acompanhar. Fomos atendidos na emergência, os meus sinais vitais foram conferidos, preenchemos os papéis para a internação. Quando fui procurar os cartões do convênio dei-me conta que os havia deixado em casa. O Fábio foi buscá-los, mas eu já fiquei na sala de espera, pois estava sendo preparada às pressas uma transfusão de sangue, a primeira de uma longa série que faria nos próximos meses. Só então, com as coisas mais calmas, consegui conversar com a Ana Virginia e ela me alinhou os principais acontecimentos daquele dia, especialmente os telefonemas que recebeu do pessoal do meu apoio no Tribunal e do próprio médico que estavam aflitos para me localizar e novamente repetiu que eu estava gravemente doente. Logo me veio à mente a ideia de que com tal doença não se brinca, recordando, como num filme, o que se passou com o nosso saudoso Juarez, do I Curso da União de Famílias. Decidi naquele momento, mesmo que ainda incipientemente, enfrentar tudo o que se apresentasse como uma grande contribuição ao capital de graças e disse à Ana Virginia, também pela vez primeira, de que naquela feita eu não escolheria médico algum, mas aceitaria o que Deus enviasse, no que ela imediatamente me apoiou. Chamaram-me e entrei na unidade de emergência, onde foi medicado, colheram amostra do meu sangue (AB+) e prepararam a transfusão, tecnicamente um concentrado de hemácias, irradiado e com filtro. Foi então que perguntei ao atendente que preparava o cateter no meu antebraço direito se eu estaria liberado até o dia 14 de outubro, quando estava marcada a sessão de julgamento do 2º Grupo de Câmaras Cíveis do Tribunal de Justiça, que eu presidia, pois tinha processos pautados. O rapaz, cujo nome não fixei, olhou-me e disse: “esqueça disso tudo o seu tempo agora é outro”. Logo me veio à mente o verso 398 do Rumo ao Céu: “Até agora eu mesmo estive ao leme e, no barco da vida, muitas vezes te esqueci; desamparado, para ti me voltei, de vez em quando, para que o barquinho navegasse conforme os meus planos”. Recebi o sangue e me senti melhor. Fui então encaminhado para o leito 158-A onde passei aquela noite. Dormi em seguida, pois estava cansado e o dia havia sido cheio de tantas incidências. Na manhã seguinte, por volta de 7h, conheci a Drª Paula Tabbal Costa, médica hematologista, que havia sido designada para acompanhar o meu caso. Disse rapidamente que eu precisava coletar material para exames mais aprofundados, pois até ali se sabia que a doença era a Leucemia Aguda, mas do tipo celular ainda não identificado. Por isso, seria feita uma punção na minha medula óssea, com a coleta de material para exame do cariótipo e imunofenotipagem, que foi realizada em seguida e o material levado para São Paulo para a análise e resultado. Acrescentou ainda a informação de que receberia um cateter duplo na artéria jugular direita, o que de fato aconteceu logo depois. Naquela manhã, já na companhia da minha esposa e enfermeira permanente, fui transferido para o apartamento nº 821, no 8º andar do Hospital Mãe de Deus. Ela já tinha levado a imagem da Mãe Peregrina que nos acompanha há muito anos, desde a catequese da 1ª Eucaristia que ela ministrou durante muito tempo nas Paróquias do Menino Deus e Santo Antônio Pão dos Pobres; a imagem de nosso Pai e Fundador que tínhamos em casa; e a Cruz da unidade; assim como um porta-retratos com as fotos atualizadas de nossos filhos, seus esposos e nossos dois netos, o Luiz Antônio e a Victoria. Montou rapidamente, usando uma mesa auxiliar, um pequeno santuário hospitalar, que chamou muito a atenção de todos os que acompanharam a minha saga, que apenas começava. Um dos primeiros pensamentos foi de que não poderia mais ir à Igreja todos os dias, assistir a missa e participar da mesa eucarística. Nos últimos anos este costume se incorporou ao meu horário espiritual e iria sentir muita falta. Mas Jesus providenciou: se eu não mais poderia visitá-lo e recebe-lo diariamente, Ele então viria até onde estava. E foi isso que aconteceu, porquanto as ministras extraordinárias da Eucaristia começaram a me visitar e levá-Lo todos os dias. Em seguida, foi instalada uma bomba de infusão, pois naquele mesmo dia começaria a quimioterapia de remissão, com a dispensação de idarrubicina e cetarabina. Foram dias muita expectativa pelo resultado dos exames que em breve revelariam o meu cariótipo e a natureza da leucemia que eu havia contraído. A nossa relação com a médica hematologista foi se estabelecendo e ela começou a conversar mais fluentemente conosco. Disse, por exemplo, que a viagem que fiz a Caxias do Sul no dia 04 de outubro foi de alto risco, porquanto poderia literalmente ter apagado no trajeto. E a subida de serra pela BR 116 é sempre um perigo mesmo para quem está vigilante. A Ana Virginia, com quem estou casado há quarenta anos, era arredia às redes sociais. Mas a minha enfermidade a fez rever a sua disposição e começou a se familiarizar com o WhatsApp, começando a se comunicar primeiro com os filhos, depois com os diversos grupos na União de Famílias, no Santuário Maria Cor Ecclesiae, na Paróquia Menino Deus e no Santuário Santo Antônio Pão dos Pobres. Se a presença da imagem da MTA, do nosso Pai e Fundador e da Cruz da unidade e o porta-retratos davam um ar mais sacro ao lugar, a comunicação instantânea permitiu um efeito inimaginável ao início, pois se formaram correntes de vida que se se explicam pela graça, na chamada resultante criadora. Eu precisava desesperadamente de transfusões de sangue e plaquetas e a campanha começou a tomar vulto. Também a oração pela canonização do Padre Kentenich, o nosso Pai e Fundador, foi a escolhida no nosso VI Curso da União de Famílias e logo se propagou para ou outros Cursos e muito mais além. Ali eu vi um sinal de Deus sobre os dias que se seguiriam, repletos de notícias do engajamento de muitos irmãos e irmãs naquela forte corrente de oração, doação de sangue e plaquetas. No dia 17 de outubro terminei a quimioterapia de remissão, a primeira e mais importante naquela fase, com o esquema 7 + 3 de irrubicina + cetarabina. Estava com as defesas muito comprometidas e os cuidados da equipe médica redobraram, envolvendo toda a minha família e as poucas visitas autorizadas. Uma das quais que se tornou constante durante toda a internação no Hospital Mãe de Deus a do Padre Romeo Maldaner, nosso confessor permanente e quem prestávamos contas há muitos anos. Suas bênçãos, orações constantes e seus cuidados foram fundamentais para a manutenção de meu ânimo elevado e viva a minha esperança. No período foi preciso trocar o cateter central, passando o novo cateter para a artéria jugular esquerda, tendo em vista o surgimento de febre e a suspeita de contaminação. Na madrugada do dia 25OUT tive duas manifestações violentas de bacteremia, com calafrios e tremores que me sacudiram sem controle por vários minutos, numa sensação de desvalimento total. O controle foi pela morfina. Nos meus pensamentos sobre os episódios daquela noite constatei que ali entreguei a Deus e ao Pai e Fundador aquilo que rezava todos os dias desde que fiz o ato da Carta Branca: Recebe, Senhor, pelas mãos de minha Mãe, a doação da minha régia liberdade, recebe a memória os sentidos e a inteligência, recebe tudo em prova de meu amor. Recebe todo o coração e toda a vontade, dá que eu assim sacie o verdadeiro amor. Minha maior felicidade é devolver-te, sem reservas, tudo o que me destes . No dia seguinte outra notícia impactante. A Drª Paula recebeu o resultado do cariótipo e imunofenotipagem e o comunicou primeiramente à minha esposa e minhas filhas e depois deu-me conhecimento de que tinha uma Leucemia Mielomocítica Aguda , com cariótipo normal e com defeito no gene FLT-3 com DIT , o que significava risco intermediário e exigia transplante alogênico de células tronco como única alternativa terapêutica relativamente segura. Como meus pais já eram falecidos, meu único irmão também falecido, restavam poucas alternativas. Eu havia suportado bem a quimioterapia de remissão, mas os últimos acontecimentos me abalaram e fizeram com que tivesse muitas horas de insônia, causadas também pelos medicamentos que vinham nos horários mais estranhos, especialmente os antibióticos que eram necessários para o controle das situações adversas, como a nova infecção que eu apresentava, com suspeita de ser causada pelo cateter central, retirado no dia 28 de outubro. Naquele mesmo dia outra notícia que me abalou muitíssimo. A Drª Paula a comunicou de modo franco, após consultar alguns especialistas que passariam a me acompanhar, como o infectologista e o clínico geral. Eu havia contraído provavelmente uma pneumonia causada por fungos. Havia suspeita de aspergilose . Naquela madrugada passei muitas horas insone, revendo todo o meu passado, desde as lembranças da minha infância, adolescência e vida adulta e rememorando tudo o que havia sucedido nos últimos meses. Disse então a Deus e ao nosso Pai e Fundador, a quem eu me dirigia com muita assiduidade nas minhas orações: Senhor, estou pronto para ir para a tua casa. Jesus, teu Filho amado e nosso Salvador nos disse que haviam muitas moradas na casa do Pai (Jo 14, 2) e eu penso ter cumprido a minha missão. Tenho os filhos todos casados e encaminhados, com formação superior e boas colocações. A Ana Virginia, minha esposa amada e minha companheira nestes momentos de dor e incerteza vai ficar amparada. Estou pronto! Eis-me aqui. Mas também disse: Senhor, se quiseres que eu fique, por faltar alguma coisa que ainda devo realizar, também digo: Estou pronto! Eis-me aqui, com alegria! E rezei: “Dá, Pai, finalmente a conversão total! No Esposo que anunciar ao mundo inteiro: o Pai tem o leme nas mãos, embora eu desconheça o destino e a rota” . Pedi ao nosso Pai e Fundador, a quem havia entregue o futuro dos dois Cursos que estavam sob nossa responsabilidade como formadores, que tomasse conta das famílias e não as deixasse abandonar a nossa União de Famílias se acontecesse o desenlace final. Disse a ele também que me sentia com a consciência tranquila pelo trabalho que havia feito com o nosso Estatuto de União de Famílias e agora na sua regulamentação, coordenando a Comissão do Livro da Vida. Pedi-lhe que cuidasse também desta parte tão importante e fortalecesse os instrumentos que seriam enviados para a minha substituição. Por fim, pedi-lhe que cuidasse da 2ª Equipe da Comissão de Educação da União de Famílias, a nossa querida FORMA, pois deveria seguir seu caminho radioso no futuro da União. No dia seguinte o sinal veio. Pela manhã, depois de receber Jesus sacramentado trazido pelas ministras da Paróquia Menino Deus, para minha surpresa entrou no meu aposento o Padre Jacques Rodrigues, Pároco da Paróquia Menino Deus e manteve um diálogo franco comigo. Disse-me da movimentação espiritual que estava acontecendo na comunidade, falou-me de como a minha moléstia havia mobilizado as pessoas e me ministrou o sacramento da unção dos enfermos. Isso me deu novo ânimo. O Pe. Romeo Maldaner veio à tarde e, sem saber de tudo o que havia acontecido pela manhã, disse-me palavras de alento muito especiais, trazidas diretamente do coração de Deus e transmitidas pelo nosso Pai e Fundador, ele que o conhece pelo Movimento Apostólico de Schoenstatt. Não consigo repeti-las pois fiquei muito emocionado com o que me foi dito por Deus e pelo nosso Pai e Fundador pelas suas especiais causas segundas que me vieram ao encontro naquele dia. Decidi enfrentar todos os desafios literalmente de peito aberto, aproveitando a presença da fisioterapeuta enviada pelos médicos e fazendo os exercícios respiratórios mais exigentes, mesmo sentido dor nos pulmões. Os dias se passaram, os exercícios continuaram e meu estado geral melhorou, sem outros sinais de agravamento. Continuava internado e sem perspectiva de alta, pois deveria ainda receber nova quimioterapia de conservação antes da alta. A remissão que eu havia alcançado pelos primeiros sinais não poderia ser comprometida. A médica dizia que deveria esperar o desenrolar dos acontecimentos, até realizar nova tomografia do tórax e ver o quadro dos meus pulmões. Comecei a tomar o medicamento Vfend® (Voriconazol) em conjunto com todos os outros, para o controle dos fungos. Recebi um cateter periférico provisório no braço direito e assim permaneci por alguns dias recebendo a medicação por ele. O novo cateter central, agora na subclávia direita, foi instalado no dia 30 de outubro. No dia 02NOV aconteceu um fato pitoresco. Era o feriado de finados, vieram os filhos e os netos me visitar e ficaram ao entardecer o Fábio e a Thaise, sua esposa. Fábio e o nosso filho mais jovem e que me acompanhou quase sempre que a Ana Virginia precisou sair para conservar a nossa casa e ver a sua mãe, Candelária da Silva Beal, que mora conosco e tinha 94 anos naquela época. A conversa estava animada e não vimos que uma das janelas, na sua parte de cima, havia ficado aberta. Houve uma revoada de insetos, dentre os quais mosquitos de pequeno tamanho, os conhecidos “borrachudos”, que infestaram o aposento. Foi necessário me remover às pressas, pois usar inseticida estava vetado, ser picado à noite e sem o sistema imunológico apto seria perigoso. A equipe de enfermagem nos auxiliou e saímos carregando as nossas coisas pelo corredor, em direção ao aposento nº 805, onde passei o restante do período de internação. Voltando ao meu caso, o exame de galactomana deu negativo e meu quadro geral melhorava. Fiz nova punção na medula no dia 03 de novembro e repeti o TC do tórax. A punção da medula foi cercada de êxito, tanto pela qualidade do material aspirado, como pelo seu resultado, que indicou remissão completa, com ausência de qualquer sinal das células defeituosas, que a médica chamava de blastos. Contudo, continuava com um quadro de pneumonia muito estranho e indefinido, pois a tomografia computadorizada realizada no mesmo dia havia indicado piora geral. Os antibióticos cessaram havia três dias, não tinha febre, secreções, tosse ou outra manifestação dessa ordem. No entanto, o resultado da tomografia que permitiu o diagnóstico da pneumonia comparado com o resultado da realizada agora indica agravamento. Isso não correspondia ao meu estado geral, com respiração absolutamente normal (ponto de saturação que então estava em 100%). A teoria dos médicos (hematologista, infectologista e clínico) é que o meu sistema imunológico voltou a funcionar ainda de modo incompleto e o que se via na nova tomografia são já os novos leucócitos na sua função de defesa. No dia 04NOV16 no prontuário hospitalar foi anotado o seguinte: “Paciente sente-se bem, sem queixas. BEG, descorado, afebril, eupênico, sv estáveis (...) IFT: sem inunofenótipo aberrante, sem blastos # /TC de tórax com leve piora das lesões. A) Remissão pós indução. Piora radiológica por recuperação imunológica? A melhora no meu quadro geral amainou as preocupações da equipe médica. As visitas começaram a ser admitidas e a corrente de vida então se manifestou de modo presencial. A novena de canonização de nosso Pai e Fundador estava sendo rezada por todos os que nos visitavam. A presença do Santuário hospitalar continuava chamando a atenção de todos e a Mãe Peregrina do XVIII Curso, do qual nos erámos o casal formador, nos acompanhava já há dias, presenciando todos os acontecimentos que se sucederam no período e se mudando conosco para o novo aposento. A Ana Virginia a cada saída recebia sinais claros de uma resultante criadora que não imaginávamos possível. Mesmo quando ia ao restaurante tomar café da manhã vinha com notícias que confirmavam cada vez mais a impressão inicial que haviam acontecido coisas extraordinárias desde a minha internação. Por outro lado, as suas conversas com nosso Pai e Fundador ela me confiava, dando-me ânimo para prosseguir, apesar das incertezas que reinavam. Continuava recebendo Jesus todas as manhãs, num ritual que havia se incorporado à nossa vida. Fui então autorizado a descer até a Capela do Hospital, claro que com todos os cuidados pela baixa imunidade, participando a partir dali da celebração eucarística nas tardes de sábado, retribuindo a visita de Jesus. No dia 09NOV realizei o que denominei na época “tomo-tira-teima” e a imagem apresentou uma melhora evidente, a ponto de não ser mais possível identificar o agente causador, restando apenas lesões sem maior importância. Persistia a suspeita de origem fúngica das lesões que apresentava, mas passou o enfoque do combate para a simples prevenção, no que concerne à medicação. Prossegui tomando o medicamento VFEND®, um poderoso antifungicida, mas já há perspectiva de modificação do tratamento, que persistirá a médio ou longo prazo para prevenir novas infecções. Com a sensível melhora do quadro, foi possível a retomada da quimioterapia de consolidação, tendo as primeiras duas doses de citarabina (3h cada uma) sido administradas na quinta-feira, dia 10NOV16, prolongando-se, considerando os intervalos obrigatórios, até o dia 14NOV, quando foi completado o primeiro ciclo de quimioterapia de consolidação. Após 44 dias de internação, aproximava-se a minha primeira alta hospitalar, mantendo-se o quadro de remissão da Leucemia Mielomonocítica Aguda, com defeito no gene FLT-3. Estava me sentindo muito bem e animado com esta perspectiva, ciente de que o caminho ainda era longo até o transplante de células tronco hematopoéticas, que para o meu caso parece inevitável. De fato, a Drª Paula nunca escondeu que preferia que no meu caso fosse um transplante alogênico, de doador não aparentado, com compatibilidade do HLA bem alta. Dizia então que as minhas duas filhas, por já terem tido a maternidade, estavam descartadas. O meu filho mais jovem tinha uma compatibilidade de no máximo 50%. Por isso, já há algum tempo nos vinha falando da Clínica Pasquini, de Curitiba, como uma referência internacional na pesquisa e realização de transplantes alogênicos. Eu e a Ana repetíamos: “Confio em teu poder e em tua bondade, em ti cofio cegamente em toda situação, Mãe no teu Filho e em tua proteção, e tudo será de acordo com a vontade de Deus”. Com o auxílio da Drª Paula, agendamos uma consulta com a médica transplantadora do Hospital Nossa Senhora das Graças e Instituto Pasquini, a Drª Larissa Medeiros, inicialmente para o dia 24NOV16, em Curitiba. Contudo, pela baixa muito rápida das minhas plaquetas, a médica do Hospital Mãe de Deus vetou a viagem pelo risco de hemorragias. Remarcamos a ida a Curitiba para o dia 30NOV16 e fomos, depois de uma transfusão de sangue e plaquetas, pois a minha hemoglobina havia baixado muito, assim como leucócitos e seus associados. Foi conosco o Fábio, o nosso filho mais jovem, agora com 31 anos, que foi identificado previamente como o doador parental mais compatível. Contudo, houve a clara opção pela médica transplantadora pelo doador não parental, ao argumento de que o Fábio seria só 50% compatível. Recebemos muitas informações, especialmente quanto à estrutura do Hospital e seus equipamentos especiais, a realização de mais de mil transplantes de medula óssea nestes últimos anos, a consequência da quimioterapia radical que eu seria submetido, que me equipararia a um recém-nascido prematuro, que não terá mais as defesas sequer do leite materno, das vacinas tomadas ao longo da vida, dos anticorpos criados para a defesa do organismo durante a minha existência e etc. Além disso, a Drª Larissa enfatizou que nós deveríamos permanecer em Curitiba ao menos cem dias desde o dia do transplante, contando o período de internação (40) dias e a evolução do quadro que aconteceria, o que nos obrigaria a abandonar a nossa casa, a nossa pequena família e tudo o mais, alugando um flat e reorganizando a nossa vida naquela cidade. Voltamos naquela tarde de Curitiba muitíssimo preocupados, angustiados e com incertezas. Repeti mais uma vez o que disse na noite de 25OUT a Deus e ao nosso Pai e Fundador: “Dá-me, Pai, finalmente a conversão total! No Esposo quero anunciar ao mundo inteiro: o Pai tem o leme nas mãos, embora eu desconheça oi destino e a rota” (RC 399). A Ana Virginia, no dia seguinte, foi ao Santuário Tabor Maria Cor Ecclesiae e, diante da estátua de nosso Pai e Fundador, pediu-lhe chorando a graça de não haver o transplante em Curitiba. Veio então a consulta com a Drª Caroline Peliccioli Brum, médica transplantadora do Hospital Dom Vicente Scherer, do complexo da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, realizada no dia 02DEZ16. O quadro então mudou. A médica iniciou por comparar os exames de HLA que foram feitos ao início da minha internação com os exames dos três filhos, concluindo que a compatibilidade com o Fábio não era apenas de 50%, mas sim maior, aproximando-se dos 75%. Explicou que nos últimos anos, a pesquisa médica avançou muito e, hoje, a temida síndrome do enxerto contra hospedeiro, a DESCH, está mais bem controlada, sendo menor com o doador aparentado. Por isso, não via muita vantagem em se procurar um doador nos bancos de sangue do mundo inteiro, procedimento que poderia levar de trinta a noventa dias, quando o doador estava disponível e disposto a fazer a doação. Isso nos encheu de grande alegria, pois todo o procedimento poderia ser realizado em Porto Alegre, claro que com os mesmos cuidados iniciais nos primeiros 40 dias, exatamente como aconteceria em Curitiba, mas com toda a pequena família perto e a grande família constituída pelas comunidades rezando pelo êxito do procedimento. Nosso Pai e Fundador havia atendido mais este pedido da Ana Virginia e meu, por via de consequência. A coleta do sangue para os testes de HLA cruzado foi requisitada pela Drª Caroline, a médica que seria a profissional que realizaria o transplante. O Fábio e eu passamos por uma grande bateria de exames e, se tudo desse certo, então o transplante poderia ser realizado em meados de janeiro de 2017. Com isso, não ia precisar dos novos ciclos de quimioterapia de conservação e manutenção, restringindo-me ao que ia iniciar na 2ª feira, dia 05DEZ16, quando voltei a me internar no Hospital Mãe de Deus para receber o terceiro ciclo. Aqui também uma novidade, pois passaria a utilizar pela primeira vez o Tosilato de Sorafenib (Nexavar®), medicamento da Bayer que controla o desordenado ciclo da produção da proteína FLT-3, dando-me maior tempo para a realização do transplante. O III ciclo da quimioterapia de conservação, à base de citarabina, foi o mais devastador para as minhas taxas de leucócitos, plaquetas e hemoglobina. Fiz transfusões e meus braços estavam praticamente pretos, ao ponto de meu neto Luiz Antônio dizer, como disse à sua avó Ana Virginia, que estava sujo, afora não poder me aproximar dele e da outra neta, a Victoria. A minha alta da internação correspondente ao 3º ciclo da quimioterapia foi no dia 12DEZ16. Ainda recebi naquele dia uma transfusão de concentrado de hemácias irradiadas, tal a deficiência que apresentava. Havia escassez de plaquetas e as minhas estavam muito baixas, mas não consegui mais transfusões até o dia 18DEZ18, quando comemoramos os nossos quarenta anos de matrimônio, com todos os filhos, esposos e netos reunidos em nossa casa. Foi uma grande alegria e eu agradeci muito ao Pe. Kentenich pelo que estava vivendo. Nas vésperas do Natal de 2016 estava no D + 13 após a o III ciclo da químio, com perspectiva da volta da produção da medula antiga na véspera ou no dia 25DEZ, dia do Natal do Senhor. Os exames preliminares que antecederam o TMO foram satisfatórios. Os de sangue porque estava num período que precedeu ao III ciclo de químio, com a medula produzindo e sem a presença dos temidos blastos. Os dos demais órgãos vitais confirmando o que já havia acontecido na internação anterior. Tinha na época consulta agendada com o Dr. Marcelo Capra, integrante da equipe transplantadora do Hospital Dom Vicente Scherer, marcada para o dia 27DEZ, quando então seria confirmada a data provável do TMO, claro que se os exames fossem satisfatórios. A perspectiva então se revelou a melhor possível, pois os exames de HLA cruzado com o meu filho deram negativo e os exames dele foram os melhores possíveis. Iria passar o Natal com minha pequena família, pois continuava sem febre ou qualquer outro sinal que a isso contraindicasse. A consulta do dia 27DEZ16 ainda nos reservou algumas surpresas. Os médicos estavam interessados em se certificar que a remissão que eu havia alcançado era consistente e, por isso, me pediram que realizasse a quinta punção da medula óssea antes da internação no Hospital Dom Vicente Scherer. Liberaram-me para ir passar o final de ano com minha família na nossa casa no litoral de Santa Catarina, mais precisamente em Garopaba. Todos os filhos foram conosco e passaram alguns dias, que para nós foram inesquecíveis. Senti a presença de nosso Pai e Fundador em vários episódios, especialmente na relação com os meus netos e as surpresas que me aprontavam a cada dia. A Ana Virginia foi incansável para que tudo desse certo. Realizei a nova punção da medula óssea em 04JAN17, aos cuidados novamente da Drª Paula Tabbal da Costa. Os resultados saíram em seguida e foram muito positivos, já com a medula produzindo e sem sinais de recidiva. Contudo, eu bem sabia que aquele quadro era instável e poderia se alterar a qualquer momento. Fui chamado no Hospital Dom Vicente Scherer e instruído a me internar no dia 17JAN17, num procedimento cercado pela simplicidade, mas envolto em um mistério que só mais tarde perceberia . Também no TCTH a mão poderosa de Deus se fez presente e a intercessão de nosso Pai e Fundador foi decisiva. Fui internado no apartamento nº 402 do Hospital Dom Vicente Scherer, que integra o complexo da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, num lugar que mais parecia um bunker. Eram duas portas, separadas por um pequeno hall, onde havia pia e armário para a desinfecção. Quanto uma porta abria a outra ficava lacrada. No interior do apartamento a temperatura era estável, controlada externamente, com vidros e janelas blindados, sempre em 18º. Estávamos no forte do verão de 2017. Nos cinco primeiros dias ficou comigo o Fábio, recebendo injeções na região abdominal para produzir células tronco. Foi um período de convivência gratificante com o meu filho mais jovem, agora com trinta e um anos, que o Pe. Kentenich me proporcionou . Depois da quimioterapia mieloablativa, que eliminou a medula, e da radioterapia, que eliminou os linfócitos circulantes no corpo, recebi a infusão das células tronco hematopoéticas, num procedimento cercado de muitos cuidados, no dia 24JAN17, às 14h30. A médica transplantadora e a equipe de enfermagem foram acompanhadas pela MTA peregrina do XVIII Curso que ficou no apartamento todo o tempo ao lado da cama onde recebi as poderosas células tronco de meu filho, colocadas em dois recipientes de 400 ml e que foram injetada na minha corrente sanguínea e formaria a nova medula. Como nossa decisão foi pela TMO com doação parental, sabíamos que os riscos eram mais pronunciados do que a doação autóloga (quando o próprio paciente tem suas células tronco coletadas e enxertadas) ou quando a doação acontece com HLA mais aproximado e não parental. No caso da doação parental, com HLA mais dissonante, o risco de rejeição é um pouco mais alto. Por isso, foram necessárias ainda duas quimioterapias de controle da rejeição, que foram aplicadas nos dias 27 e 28JAN. Depois disso foi esperar a vontade de Deus e a “pega” da nova medula, como diziam os médicos, que começou no D+14 (07FEV17) e o seu resultado, que poderá ser experimentado no D+21 (14FEV), com os hemogramas e a evolução que vão apresentar. A alta do Hospital Dom Vicente Scherer aconteceu em 13FEV17, mas as cautelas em casa seriam mais acerbas, pois a situação em que saí se equipara em termos imunológicos a de um recém-nascido como ouvimos em Curitiba e foi confirmado pelas diversas equipes de profissionais que nos visitaram nos últimos dias da internação. Nos próximos seis meses as consultas médicas seriam frequentes e os hemogramas vão fazer parte da minha vida. Neste período se saberá se os temidos efeitos da síndrome do enxerto contra o hospedeiro vão se manifestar e em que grau. Dizem os médicos que moderados são bem-vindos, pois revelam que a nova medula pegou e está atacando as células defeituosas que ainda sobreviveram. Também o quimerismo será decisivo, indicando qual medula está ativa, se a antiga ou a do doador, caracterizando aí mais indicativo seguro da vontade de Deus na minha vida. A chegada em casa foi marcada por uma forte alergia, que cedeu rapidamente. Foi causada pela queda dos insignificantes fios de cabelos e pelos do corpo e controlada pelo meu incipiente sistema imunológico. Para prevenir a rejeição comecei a tomar a Ciclosporina, medicamento que baixava em muito a minha imunidade e me tornava ainda mais suscetível às mudanças climáticas e as causadas por pelos e outras partículas. No dia 24FEV17 realizei, junto com o Fábio, o exame do quimerismo. Foi no Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Lá foi coletado o esfregaço de minha mucosa bucal, que continha ainda os traços do meu DNA, bem como coletado sangue periférico do Fábio e o meu. O resultado ficou disponível no dia 09MAR17, às 17h58. E deu QT (quimerismo total, ou seja, medula 100% do doador). No meu dia D+38 tive a primeira e leve manifestação da DECH (doença do enxerto contra o hospedeiro). Foram algumas irrupções na pele da testa, com prurido, quadro que foi controlado por um creme à base de corticoide. Tudo de acordo com o esperado, segundo a Drª Caroline Brun, a médica transplantadora, com quem tive consulta em 10MAR17, às 8h10. Eram sérios os riscos de nova internação hospitalar. Vou dar um exemplo que é bem explícito: Nos dois primeiros exames de antigenemia para o Citomegalovírus, realizado no Laboratório de Imunologia de Transplantes do HDVS, os resultados foram positivos: no primeiro, com o número de células de + / 2 : 100.000; no segundo, + / 1 : 100.000. Bastou para que a equipe médica determinasse a minha volta ao hospital para a medicação intravenosa por quinze dias. Estava tudo autorizado e começaria o tratamento no sábado, dia 11MAR17. Entretanto, esta não era a vontade de Deus, pela poderosa intercessão de nosso Pai e Fundador, pois o terceiro e último exame, realizado em 09MAR, deu negativo, sendo cancelado às pressas todo o aparato que foi armado. Logo cheguei ao sexto mês de minha vida nova, ou como se dizia no jargão médico-hospitalar, o meu d+180. Este marco foi fixado de acordo com os protocolos médicos há muito estabelecidos e que estão relacionados aos marcadores mais importantes da chamada doença residual, bem como da temida doença do enxerto contra o hospedeiro, que no meu caso, em vista do tipo de transplante realizado (alogênico com doador haploidêntico, ou seja, com compatibilidade de 70%), exigia potente medicação que reduzia os riscos de rejeição e tornava a DESC mais controlada (Ciclosporina). Realizei então o novo quimerismo, no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, cujo resultado foi conhecido em 25JUL17, mantendo-se o que os médicos chamam de QT, ou seja, 100% da medula do doador, o meu filho Fábio. Também houve a modificação do meu grupo sanguíneo. Depois de alguma hesitação foi confirmado que eu havia mudado do grupo AB+ para A+, exatamente o do meu filho Fábio. Neste período tive uma consulta que foi muito importante, realizada em 26AGO17, quando fui dispensado do uso da Ciclosporina, o medicamento que baixava a minha imunidade. A dispensa da Ciclosporina decorreu da evolução muito positiva do meu quadro, pois o meu organismo já estava acostumado com o medicamento e suas taxas vinham baixando de modo consistente. Fazendo a ponderação de que o medicamento já representava mais malefícios (em vista o risco que causava das chamadas infecções oportunistas) houve a dispensa. A minha saúde geral apresentou melhora, sendo superada uma teimosa coriza que não queria me deixar, com a indefectível tosse que já durava mais de dois meses. Em vista da possibilidade concreta de volta ao trabalho, foi solicitada pelo Dr. Marcelo Capra a primeira punção da medula óssea depois do TCTH (a quinta depois da doença). Foi enorme a expectativa que cercou a divulgação dos resultados dos diversos exames que foram pedidos pelo médico. Na estação de trabalho que tenho montada no gabinete de casa passei a acompanhar diariamente a divulgação dos resultados pelo www.weinmann.com.br e a certeza da intervenção divina foi se fortalecendo. Atingiu seu ápice na publicidade do exame que indagou sobre a presença da mutação no gene FLT-3 com DIT e afirmação de que a mutação estava ausente na nova medula. Os outros cinco exames, todos muito importantes, indicaram a consolidação do meu quadro, razão por que o médico, ponderando ainda o resultado do hemograma e exames completares realizados em 21SET17, autorizou a minha volta ao trabalho no início do mês de OUT17. Fazendo uma ponderação de tudo, só tenho a agradecer a nosso Pai e Fundador e a MTA pela magnitude da transformação que Deus operou na nossa pequena família e nas comunidades que integramos. Especialmente na União de Famílias de Schoenstatt, que me preparou por muitos anos de estudo, oração e vida para os momentos difíceis que atravessei; portanto, graças à pedagogia e a espiritualidade que o Padre Kentenich preparou com tanto cuidado pelos anos que conduziu a sua Família e que me auxiliou de modo efetivo no enfrentamento da doença e suas graves consequências. Foi uma emoção muito forte voltar ao Santuário Maria Cor Ecclesiae com todos os cuidados de quem esta imunodeprimido, e encontrar nossa Mãe e Rainha e nosso Pai e Fundador naquele lugar santo e agradecer-lhes pessoalmente pelas inúmeras graças que recebi na caminhada junto com minha esposa, filhos, netos e as comunidades que estamos ligados. É no Santuário que sempre encontro nosso Pai e Fundador e cada vez que volto lá rememoro tudo e agradeço por estar vivo e sentir-me um pequeno instrumento na sua Obra. Porto Alegre, 31 de julho de 2018, ano jubilar da volta de nosso Pai e Fundador à casa do Pai.

Nelson Antonio Monteiro Pacheco. VI Curso da União de Famílias de Schoenstatt no Brasil.

NELSON A. M. PACHECO PORTO ALEGRE/RS
TESTEMUNHO DE UMA FILHA DA UNIÃO DE FAMÍLIAS

Ouvir e falar sobre o Pai e Fundador é sempre uma grande alegria para mim, pois ele além de ser o Fundador do Movimento que escolhi participar, é uma personalidade ímpar, caracterizada por um caráter paternal único e uma inteligência sobrenatural que me encantam cada vez mais, me impulsionam a conhecê-lo melhor e a segui-lo com maior fidelidade! Assim como muitas pessoas que se aproximam pela primeira vez com a espiritualidade de Schoenstatt, a Mãe de Deus e o Santuário tocaram primeiramente o meu coração e só aos poucos fui conhecendo o terceiro ponto de contato, tão essencial quanto os outros dois pontos, o Padre José Kentenich. Como alguns dizem, ‘nasci’ dentro do Movimento, pois meus pais pertencem ao III Curso da União de Famílias, participei das Apóstolas Luzentes de Maria desde pequena e estudei o ensino fundamental no Colégio Mãe de Deus. Dessa forma, por meio de muitas vivências, fui tomando contato com o Fundador da Obra de Schoenstatt e entendendo o porquê a figura dele é tão importante e presente no Movimento. Mas, sem dúvidas, foi no ano de 2010 que minha vinculação a ele se tornou ainda mais vital! Na época, estava começando o segundo ano de cursinho em preparação para o vestibular e durante este tempo sempre rezava, diariamente, a oração de canonização do Fundador na intenção de obter uma vaga na universidade no curso de Medicina. Foi quando tive a oportunidade de ir a Schoenstatt participar do Programa de Formação para a Jufem por três meses, juntamente a 8 jovens do Brasil e Argentina. Como estava no cursinho, foi possível passar esse tempo onde tudo começou. Estar em Schoenstatt e desfrutar de cada local sagrado é um privilégio, porém esse tempo foi, sobretudo, marcado pela figura do Pai e Fundador! Para começar morei nesses meses, na casa Schulungsheim, o local em que o Pe. Kentenich viveu seus últimos três anos de vida. Logo na primeira semana, com as demais jovens, participei da inauguração da reforma da rua que leva o nome do Fundador e para isso nos preparamos para desenvolver atividades sobre a vida dele com as crianças na Casa Padre Kentenich. Ao longo da formação, nossas amigas argentinas nos convidaram a preparar-nos para a Aliança Filial com o Fundador e, após alguns encontros, no dia 28 de junho de 2010 selei a minha Aliança Filial com o Pai junto à sua tumba na Igreja da Adoração. Conhecemos e visitamos lugares importantes da vida do Pai: Gymnich, Limburgo e Dachau. Para fechar esse tempo magnífico, nos dias 8 a 10 de julho, vivenciamos as celebrações em torno do centenário da ordenação sacerdotal do Padre Kentenich! Com certeza estar em Schoenstatt foi um presente maravilhoso e, principalmente, um encontro bem pessoal com o nosso Pai! Além de ter alcançado a graça de passar no vestibular neste mesmo ano de 2010! Vale muito a pena rezar a oração de canonização!!! A vinculação ao Pai e Fundador é algo próprio da essência de Schoenstatt! A Ir. M. Petra em sua visita ao Brasil nos confirmou: “Quanto mais conhecemos o Pai, mais podemos compreender sua obra. Quanto mais amamos o Pai e Fundador mais amamos a Família de Schoenstatt. O Pai e a Família são um”. Dessa forma, cada filho de Schoenstatt é chamado a aprofundar o vínculo com o Padre Kentenich e isso pode ser feito de diversas formas, permitindo construir uma relação natural e orgânica. Alguns exemplos são: a leitura de livros e textos escritos por ele, a oração para sua canonização, pedir sua orientação como Pai por meio de conversas e do uso do telefoninho (mensagens), aproveitar oportunidades para conhecer pessoas que conviveram com ele, entre outros. Acredito que, neste ano Jubilar dos 50 anos de morte do Pe. José Kentenich, nós somos chamados a um compromisso pessoal de aprimorar a vinculação com o Pai e Fundador, pois esta é inerente da Cultura da Aliança que queremos gestar desde Schoenstatt aos novos tempos. Queremos partir sempre de mãos dadas e unidos ao nosso Pai!

Suzana Maria Menezes Guariente

Suzana Maria Menezes Guariente Londrina/Paraná
TESTEMUNHO - MISSÕES FAMILIARES

Convite...dúvidas...SIM. Preparativos, preocupações e muita expectativa...Foi assim que começamos a nos preparar para participarmos da “I MISSÃO FAMÍLIA TABOR”. Foram 4 dias onde experimentamos dois tipos de vivência e convivência: a da família de Schoenstatt e das famílias de General Câmara - RS, cidade escolhida para as missões/18 “por uma nova terra mariana”. Como família unionista gostaríamos de testemunhar aqui um pouco do que foi esta vivência/convivência, principalmente com a nossa família Schoenstatiana, que era composta por vários ramos: JUMAS, JUFEM, MÃES, UNIÃO E LIGA DE FAMÍLIAS, CAMPANHA DA MÃE PEREGRINA, POSTULANTES E IRMAS DE MARIA. Ao longo dos quatro dias cada ramo viveu com muita intensidade o seu modo de ser. E é aqui que nós podemos testemunhar nossa vida familiar, como é nosso dia a dia. Pudemos reacender a esperança e a coragem de muitos jovens de que é possível sim constituir uma família, de ter filhos e que todos os esforços e sacrifícios valem muito a pena!!! Testemunhar que não estamos sozinhos, que nossa Mãe está conosco e o bom Deus nos concede todas as graças necessárias para conduzir nossas famílias, testemunhar que é sim na família que criaremos o novo homem, mas o principal minha gente foi ver como nossos filhos (Matheus 16, Isadora 8 e Germano 6 anos) viveram essa experiência. Com que seriedade, bravura e heroísmo vestiram a camisa e saíram pelas ruas levando nossa MTA à outras famílias que não A conheciam. Com que ânimo e coragem acordavam cedo, enfrentavam sol, calor, longas caminhadas e no final do dia ainda nos acompanhavam em todas atividades pós missões (missas, terços, vivências e apresentações). Se a nós nos surpreenderam, imaginem qual foi a reação das pessoas daquela comunidade que nos receberam. Os nossos pequenos simplesmente conquistaram o coração de cada pessoa que esteve conosco. Sem dúvida devemos muita gratidão a Nossa querida Mãe por tantas graças e bênçãos. Sem vanglória ou orgulho, fomos sim um pouquinho do nosso Ideal... Família Santa do Pai Tabor para o Mundo. Também pudemos experimentar a riqueza da espiritualidade que nosso Fundador deixou para cada ramo de sua grande obra...como são importantes e necessárias umas para as outras...e que todas com suas características e carismas formam um grande conjunto...a grande unidade que devemos formar entre nossos ramos... Uma só família, uma só batida, um só coração!!! Juciliano e Veridiana Caliari Região Sul / XVII Curso

JUCILIANO E VERIDIANA CALIARI / XVII Curso Região Sul
Testemunho de Elaine Melquiades

 

 Meu primeiro contato com o Movimento de Schoenstatt foi quando entrei na Juventude Feminina, no final dos anos 90, não sabia nada de Schoenstatt e muito menos do Padre José Kentenich. Lembro-me das vezes que visitei o Santuário da Esmagadora da Serpente em Londrina, ficava olhando aquele vitral colorido com aquele senhor barbudo e me perguntava que faz ele aqui nessa Capelinha? Aos poucos fui tomando conhecimento e lendo sobre sua vida, sobre os marcos Históricos, pois nessa época já era dirigente de grupos de Jufem e precisava falar sobre o Fundador às meninas. Foi quando participei de um encontro onde tivemos uma vivência na Capela Histórica do Colégio Mãe de Deus, lá pude ver os paramentos e objetos que ele usou em suas vindas à Londrina, o que me causou uma grande curiosidade em conhecê-lo ainda mais. No ano de 2001 selei minha Aliança de Amor com Maria. Após isso o meu encantamento por Schoenstatt e consequentemente com o Pai se tornou ainda maior. Em 2001 eu e meu esposo começamos a namorar e ele muito schoenstattiano, sempre me contava coisas lindas a respeito do Padre Kentenich, nessa época me senti chamada a selar uma Aliança Filial com ele, foi em 31/05/2002, data especial para Schoenstatt o terceiro marco histórico. Lembro-me que nesse dia senti uma alegria imensa, era como se o Pai tivesse me segurando pelas mãos. O símbolo que escolhi para essa aliança é aquele de uma menininha bem pequena repousando nas mãos do Pai, é assim que me sinto desde então com ele. Em 2017, a Mãe de Deus preparava um encontro especial e eu não imaginava que poderia finalmente me encontrar com Ela e com o Padre Kentenich em Schoenstatt, isso se deu após muitos anos de economia e capital de graças. Tive a oportunidade de realizar o sonho de conhecer aquele “Belo Lugar” com minha família. Todos os lugares lá tem uma presença muito forte do Pai, o Santuário Original, a Igreja da Adoração, as casas onde ele viveu, e no seu túmulo fizemos a Aliança Filial em família, um momento profundo de entrega e encontro com o Fundador. Deixamos nossa foto em seu túmulo e levamos também as fotos e intenções de muitos amigos e familiares. O encontro mais especial de todos com o Fundador em Schoenstatt aconteceu um dia ao anoitecer, eu estava rezando no santuário original, e de repente olhei para fora, e da janelinha do santuário, pude enxergar uma luz acesa ao longe, na hora fiquei curiosa e me perguntei de onde vinha essa luz? No decorrer do encontro que participávamos, havia uma visita programada a uma das casas dos arredores (a Casa Aliança) e a Irmã que nos acompanhava ao se aproximar de um dos cômodos dessa casa nos contou que daquela janela, que foi o quarto do Padre Kentenich, todos os dias ele dava a sua bênção a todos os que se encontravam no santuário, e que a luz desse quarto sempre permanecia acesa dia e noite, para que os schoenstattianos se lembrassem do Pai que os acompanhava e os abençoava todos os dias de sua janela. Senti naquele momento muito forte sua presença, como se ele estivesse naquele quarto abençoando a todos que estavam no santuário. Pois bem, a partir do outro dia e os próximos que ficamos em Schoenstatt não pude conter a emoção de chegar no santuário, não importava a hora do dia ou da noite, olhava para o lado e avistava ao longe naquela enorme casa uma janelinha com uma luz acesa, eu sentia o Pai me abençoando. Desse momento em diante minha vinculação a ele passou a ser muito maior, em muitas oportunidades lhe pergunto o que fazer ou o que ele faria se fosse hoje? Como ele reagiria em determinadas situações? Enfim, para mim, o Pai Fundador é um reflexo de Deus Pai, estar em contato com ele me leva a encontrar-me com Deus, esse Pai que me acolhe e me têm em suas mãos como uma menininha. Ele sempre está a me abençoar e me acompanhar, basta que eu abra a janelinha do meu coração e o deixe entrar.

 Elaine Melquiades XIX curso União de Famílias/PR

Elaine Melquiades Londrina/Paraná
TESTEMUNHO COM PADRE JOSE KENTENICH

Nossa historia com Pai e Fundador começou a se fazer aos poucos, no decorrer dos encontros, dos estudos. Bem se diz, “quanto mais se conhece mais se ama! ” Essa verdade aconteceu concretamente em nossas vidas. E o que mais nos apaixona ainda hoje na vida de nosso Pai, é a ação magnânima da Divina Providencia em sua vida. A frase estar: “Com a mão no pulso do tempo, e o ouvido no coração do Pai”, é o que mais nos impulsiona, em qualquer situação que a vida nos apresenta. Partilhando fatos concretos: No começo da caminhada na União de Famílias, creio que muitos passam por essa dúvida: será que essa é a nossa vocação? Vários motivos nos faziam fazer esse questionamento: 1. Condição financeira, pois nosso curso foi composto por casais de varias cidades, e para nos reunirmos cada um precisaria de deslocar de muito longe. E também porque já tínhamos a consciência que se fazíamos parte da comunidade, precisaríamos também nos comprometer financeiramente com ela. 2. A questão dos estudos, somos simples, só temos a 8ª serie, e para nós era muito difícil assimilar as leituras, palavras difíceis, etc... Enfim, teve outros motivos para duvidarmos desse chamado, como já pertencíamos ao movimento, através da Campanha da Mãe Peregrina, o amor a Mãe de Deus movia nosso coração a continuarmos o nosso caminho. Fomos aprendendo a medida em que fomos nos aprofundando nos estudos, pela vida de nosso Pai, a absorvermos a maneira prática dele viver as circunstâncias que a vida lhe apresentava. E o que mais nos chamou atenção, e deu toda a direção a nossa vocação, foi viver concretamente a Fé Pratica na Divina Providência. Cada situação, cada dificuldade, que não foram poucas, o que nos fez dizer sim sempre, foi essa confiança que tudo provem da bondade e da misericórdia do Pai do Céu. Nós enfrentamos, e ainda passamos, por muitas dificuldades financeiras, mas nem por isso faltamos nos encontros, ou reuniões por esse motivo, ao contrário, nós dizemos sim a qualquer compromisso de nossa comunidade, e em nossas orações pedimos: se a Mãe e o Pai querem a nossa presença “Eles vão providenciar” e acontece simplesmente, nunca passamos necessidades, pelo contrário, como o Pai tem sido generoso, e cada vez mais experimentamos essa gostosa pertença, somos da União e a União é nossa. Na questão dos estudos, tem muita coisa que ainda não entendemos bem, mas como aprendemos de nossos Pais espirituais, Oscar e Maria Inês, queridíssimos, “a voz do Pai e Fundador para nós”, responsáveis pela nossa permanência na União de Famílias, que em tudo, o que mais precisamos é entender que somos chamados a esta vocação, sentir-se “faço parte”, depois, viver o carisma ao qual foi chamado, ser fiel a ascese, ter claro seu ideal pessoal e esforçar para conquista-lo. Tudo aprendemos pela vida de nosso amado Pai e Fundador, a escutar através da voz dos acontecimentos, a voz do tempo, a voz das pessoas queridas, dos nossos amadíssimos irmãos de Curso, que é sem dúvida a família que o Céu nos presenteou. E o que falar de nosso saudoso Pe. Ottomar, sem dúvida a presença do Pai e Fundador em pessoa, nestes últimos acontecimentos de nossa vida, nos direcionou com tanto amor, que só podíamos ver o amor da Mãe e do Pai por nós! Tudo ação amorosa da Providência Divina. Tudo isso regado por uma profunda vida de oração, uma vivencia diária em família em nosso Santuário-lar, que por sinal não poderia ter outro nome: “Santuário- lar, Mãe da Divina Providencia”. Claro que a fé é o combustível principal de toda essa história. É primordial acreditar na verdade da frase em torno da Imagem da Mãe, que está em todos Santuários de Schoenstatt, “O SERVO DE MARIA JAMAIS PERECERÁ”. Nós cremos nessa verdade, nós cremos que em tudo a Mãe cuida, até em todo sofrimento Deus providencia por amor, para o nosso maior bem! Em tudo dai Graças! Só um pedido: Que minha família experimente essa verdade até a Eternidade! Amém! Só uma coisa é necessária para esta experiencia ser concreta: Que deixemo-nos mover a ação do Espirito Santo à vontade do Pai. Docilmente como nosso Pai e Fundador nas mãos da Mãe de Deus! Quanto mais experimentamos mais amamos!!

Sonia e Francisco Canale IX Curso/SP

SONIA E FRANCISCO CANALE / IX CURSO/SP SANTA BARBARA D'OESTE/SP